sexta-feira, 29 março 2024
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Zebrinha

No Dia Internacional da Dança, comemorado em 29 de abril, um dos mais importantes nomes da dança do Brasil, o bailarino e coreógrafo José Carlos Arandiba, mais conhecido como Zebrinha, fala de suas principais inspirações para trilhar a carreira da dança. Entre elas está a dançarina soteropolitana Altair Amazonas e Silva.

Atualmente compondo o júri técnico do quadro Dança dos Famosos, do Domingão com Huck (Rede Globo), Zebrinha é diretor artístico de dois importantes grupos da cultura baiana: o Bando de Teatro Olodum e o Balé Folclórico da Bahia, uma das companhias de dança mais aclamadas do mundo.

Para Zebrinha, a dançarina Amazonas é a diva e inspiradora da dança negra na Bahia, de quem todo mundo era fã na década de 1970. Amazonas era o destaque da companhia de dança folclórica Olodumaré, criada por Edvaldo Carneiro e Silva, o mestre de capoeira Camisa Rosa. Os ensaios e apresentações do grupo aconteciam no Teatro Castro Alves, atraindo a atenção da cidade para a presença marcante daquelas pessoas negras no espaço de reconhecimento da arte da Bahia.

“Quando aquela tropa de 20, 25 negros e negras, altivos, belos, saía do Teatro Castro Alves pelo Centro de Salvador, para mim, que era adolescente na época, era a grande inspiração. Eu comecei a saber o quanto eu valia a partir dali, a me achar bonito vendo Amazonas, a mulher mais bonita que tinha nesta cidade, de verdade”, lembra Zebrinha.

“Quando aquele grupo aparecia na rua, você só não se submetia a isso se você fosse muito ruim com você mesmo. Mas se você quisesse uma mudança de raciocínio e comportamento era imediato”, desabafa o dançarino. Amazonas foi também a responsável pela decisão de Zebrinha realizar um documentário sobre a Memória da Dança Negra na Bahia.

Zebrinha afirma que sempre contou sua própria história através da dança e, há tempo, nutria o desejo de contar as histórias de outros artistas negros como ele. “Até que um dia eu encontrei a dançarina Amazonas, no Centro de Salvador. Uma mulher maravilhosa e uma artista importantíssima para a dança, pioneira, em um momento ainda mais difícil para as mulheres negras e para toda a população negra. Ela sempre foi altiva, corajosa, enfrentando o racismo e o machismo. Por conta de histórias como a de Amazonas eu decidi tocar o projeto deste filme”, detalha Zebrinha.

Filme trará depoimento e registros de diferentes gerações. “A nossa história está sendo perdida. precisamos contar a nossa história pela boca de negros e negras como Amazonas”.

O documentário é pautado pelas vivências, memórias e saberes das mestras e mestres, com entrevistas, performances e importantes registros guardados em imagens de arquivo.

O filme foi todo gravado em Salvador, no mês de março, e a previsão é que o lançamento aconteça em novembro deste ano. Zebrinha é idealizador, diretor e roteirista do projeto e conduz as entrevistas com artistas responsáveis por elevar a dança da Bahia ao reconhecimento nacional. Além de Amazonas (Altair Amazonas e Silva), estão Nadir Nóbrega, Clyde Morgan, Inaycira Falcão, Edeise Gomes, Edleuza Santos, Senzala, Luiz Bokanha, entre outras.

“Há muitas outras pessoas maravilhosas e que foram importantes para a história, mas que por limitação da duração do filme não puderam entrar no documentário”, explica o diretor.

O público poderá conhecer como esses artistas foram protagonistas de uma série de movimentos, a exemplo dos grupos Viva Bahia, Frutos Tropicais, Olodumaré, e do fortalecimento da Escola de Dança da UFBA (Universidade Federal da Bahia). Na década de 1970, o afro-americano Clyde Morgan, um dos entrevistados, foi quem introduziu a dança negra na estrutura de ensino de uma das primeiras escolas de nível superior em dança do Brasil. O primeiro homem a estudar nesta Escola de Dança da Ufba foi Raimundo Bispo, o Mestre King, um dos homenageados pelo filme Memória da Dança na Bahia.

“Conhecer a história na voz de protagonistas é um trabalho de pesquisa importante e fundamental para a preservação da memória da dança negra. Dar visibilidade ao protagonismo negro no Brasil é também aproximar toda a população de suas raízes. É entender heranças e criações fundamentais nas nossas práticas e que não encontramos explicações nos livros”, explica Zebrinha, que possui mais de quatro décadas dedicadas à dança.

Ele é formado em dança clássica e moderna no Stadeliyk Conservatorium en dans Academie te Arnhem (Holanda), onde também lecionou, e no Alvin Ailey American Ballet Theater, em Nova Iorque (EUA). Em Paris, foi professor na Academie Internacionale de Dance, no Project Studio, em Munich, e na Bélgica, deu aula na Federatie Friy Tiyed. Como solista, atuou no Introdanns, Paradis Latin, em Paris, no Alcazar de Paris e no Ballet de MonteCarlo. Atuou e dançou em shows com artistas consagrados tais como Joel Grey, Ben Vereen, Liza Minelli e Tina Turner.

Foi coreógrafo da novela Lado a Lado, da série Mr. Brau e fez a preparação de atores da novela Segundo Sol, todas produzidas pela Rede Globo de Televisão, além do musical D. Ivone Lara e dos espetáculos O Jornal, com direção de Lázaro Ramos e Exú (Cia de Teatro NATA). Foi indicado ao prêmio Shell pelo espetáculo Candaces da Cia dos Comuns (RJ), e recebeu o Prêmio Braskem de Teatro pelo espetáculo Bença (BA), um dos muitos espetáculos do Bando de Teatro Olodum que ajudou a montar.

Amazonas integra a geração de pioneiros da dança

Com muita disciplina e entrega, aliada ao corpo esguio, simpatia e beleza exuberantes, Amazonas se destacava em diversas coreografias e em todos os elementos da dança afro, como a capoeira, o maculelê, o samba de roda e a dança feita para os orixás.

A dançarina integrava a companhia criada por Camisa Roxa, que faleceu em 2013 e era discípulo de Mestre Bimba, sendo responsável por divulgar a capoeira pelo mundo. Amazonas também dançou com nomes de referências como Flexa e Mestre King, e integrou o Viva Bahia, companhia criada pela etnomusicóloga, professora e pesquisadora da música folclórica brasileira, Emília Biancardi, em 1962.

No documentário, Amazonas fala da dedicação dos dançarinos da sua geração ao desenvolvimento de uma linguagem negra na dança, aborda o preconceito sofrido como mulher e negra nas artes e das suas boas lembranças ao lado de mestres e mestras da dança da Bahia. Ela revelou que, na década de 1980, deixou a dança para se dedicar à família, incluindo os pais idosos e um filho recém-nascido que necessitavam dos seus cuidados.

O projeto do documentário é realizado em cooperação com a Fundação Pedro Calmon e Secretaria de Cultura da Bahia, com produção da Modupé Produtora, produzido por Zebrinha, Susan Kalik e Thiago Gomes. Com roteiro de Zebrinha e Susan Kalik, fotografia de Gabriel Teixeira, trilha sonora original de Jarbas Bittencourt, com Thiago Gomes, como montador e diretor assistente.

“O filme traz muitas histórias inspiradoras de resistência, coragem e crença na arte. Mas também abordará o racismo que limitou muitas trajetórias. Não quero amenizar o discurso. O documentário também terá um tom de denúncia”, antecipa o diretor.

SERVIÇO
MEMÓRIA DA DANÇA NEGRA NA BAHIA (Doc, 2022, 80 min)
Memória da Dança Negra na Bahia é um filme documentário construído através da memória viva dos percussores da Dança Negra na Bahia. Uma DENÚNCIA POÉTICA apresentada através das vivências e saberes das Mestras e Mestres protagonistas da Dança Negra na Bahia. O filme conta com entrevistas, performances e importantes registros guardados em imagens de arquivo. Documentário idealizado e dirigido por Zebrinha.

Um filme de: Altair Amazonas e Silva, Clyde Morgan, Conga, Edeise Gomes, Edileuza Santos, Elisio Pitta, Eurico de Jesus, Eusébio Lobo, Flexa II, Inaicyra Falcão, Ivete Ramos, Jorge Silva, Lindete Souza, Luiz Bokanha, Luiza Meireles, Macalé, Martinho Fiuza, Nadir Nóbrega, Nildinha Fonsêca, Senzala, Vânia Oliveira e Zulu Araújo.
Idealização e Direção: Zebrinha
Roteiro: Zebrinha e Susan Kalik
Produção: Modupé Produtora
Previsão de estreia: novembro de 2022.


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