quinta-feira, 25 abril 2024
Édson Gomes e Attooxxa - Mega
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Alberto Pitta

O màriwó, também chamado igi opé, é a folha do dendezeiro, árvore sagrada do candomblé, consagrada para o orixá Ogun. Cada ramo é cuidadosamente desfiado e pendurado em portas e janelas de terreiros e casas de santos, com a função de proteger a energia desses espaços.

A exposição “Màriwó” abre sua temporada na Paulo Darzé Galeria no Corredor da Vitoria em Salvador nessa terça, dia 17 de janeiro, apresentando obras do artista Alberto Pitta, um filho de Ogun, que emanam a força dos orixás, cujos mistérios, entretanto, se mantêm protegidos por um trompe l’oeil de grafismos e “màriwós”.

Pitta faz parte de uma geração de artistas pretos cuja produção vem sendo finalmente reconhecida e valorizada pelo sistema de arte, mesmo que de forma tardia. Afinal, são mais de quarenta anos de uma trajetória embalada pelos ritmos, formas, cores e símbolos dos cultos afro-brasileiros e do carnaval da Bahia. Filho sanguíneo da saudosa yalorixá Mãe Santinha de Oyá, sua prática artística revela e esconde segredos de seu entorno pessoal, cuja religião era sua própria moradia – o domicílio ilê – do “ogã das tintas”, como ela o chamava.

As obras de Pitta – pinturas, desenhos, tecidos, roupas, objetos e serigrafias – são testemunhos visuais de uma “ancestralidade contemporânea”. Conceitos que poderiam
ser antagônicos se tornam aqui fusão de uma coisa única; expandida no espaço, a partir do encontro de tempos passados
que se conformam como objetos artísticos. Referências técnicas e temáticas de uma antiguidade, preservadas e difundidas como um legado de família, e ressignificadas
pelo labor poético de um artista sensível e conectado com seu tempo.
A elegância da produção Pitta é digna de reis e rainhas que naturalmente se adornam,
pois são a referência de beleza daquilo que representam. Percepções a que teve acesso desde criança; ritos que fizeram parte de sua infância; elementos encantados com os quais brincava. Búzios, cabaças, folhas, contas, quartinhas, gamelas, panos e ferramentas sagradas. Uma poética conectada à rigorosa estética da visualidade ritualística das “obrigações” e oferendas das religiões
de matrizes africanas. Um refinamento interdisciplinar herdado e preservado por gerações, ressignificado artisticamente.

A contemporaneidade se dá na forma, no processo e nos resultados plásticos. Camadas estampadas no tecido- espaço-tela; de tempos aglutinados, de “ontens” e hoje; do diálogo entre arte, moda e design; entre a serigrafia
e a pintura; entre as culturas iorubana e brasileira (baiana). Arte e vida se entrelaçam como combustível necessário para afirmarmos verdades que foram historicamente apagadas.

A exposição “Màriwó” é um xirê visual de telas- oferendas que encantam e protegem, ao mesmo tempo que refletem e ofuscam saberes e fazeres sagrados. Uma celebração artística ao panteão dos orixás, como um rito de passagem entre o passado
e o momento atual em que vive o artista. Pitta das estampas, tecidos e panos; das telas, dos carrinhos
de café e instalações; dos cenários, figurinos e exposições; do carnaval, do Cortejo Afro e outros blocos afro da Bahia. Criador de uma identidade própria composta por texturas-pele que compõem uma linguagem gráfica-pictórica de grande impacto visual, que emanam uma forte carga energética. Aquele que estampou o branco sobre branco, como um “estilizado Malevich baiano”.

Alberto Pitta
Nasceu em 1961. É artista plástico e carnavalesco. Há 40 anos desenvolvendo trabalhos de pesquisas e criações artísticas, é um dos pioneiros na criação do que hoje se conhece por estampas afro baianas, utilizando-se de símbolos, ferramentas, indumentárias e adereços dos orixás como fonte de inspiração. Sua vivência dentro de terreiros de candomblé favorece e estimula a criação artística, possibilitando assim a extração do essencial para a interpretação de códigos e símbolos. Destaca-se no cenário artístico e cultural da Bahia, sobretudo, no que se refere ao carnaval dos blocos afro, afoxés e de índios em Salvador. Nos últimos 25 anos, Alberto Pitta tem se dedicado também à produção e concepção artística do Cortejo Afro, bloco que vem se destacando pelo resgate de valores estéticos no carnaval de Salvador, com estampas, figurinos, adereços
e alegorias, trazendo a arte de volta para as avenidas da cidade. Em seu currículo consta também participação em diversas exposições em torno do mundo, em países como Alemanha, Angola, Estados Unidos, França e Inglaterra.


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