Rodrigo Lelis celebra 10 anos de carreira com monólogo que comemora aniversário do Teatro Vila Velha

Com apenas duas apresentações “Sr. Oculto” é o primeiro monólogo do ator e o último espetáculo apresentado no Vila Velha antes do fechamento para reforma

Do mesmo berço que saiu Gilberto Gil, Caetano Veloso, Lázaro Ramos e outras centenas de talentos, brotou também Rodrigo Lelis, que há uma década tinha seus primeiros contatos com a arte da interpretação através da Universidade Livre do Teatro Vila Velha. Agora, Rodrigo e o Vila celebram juntos suas trajetórias, já que o Teatro também comemora 60 anos de uma história que segue encontrando e reencontrando Rodrigo em diversos momentos.

Dessa vez os dois se conectam no primeiro monólogo da carreira de Lelis, intitulado “Sr. Oculto”. Com encenação de Marcio Meirelles e texto de Mônica Santana, o espetáculo faz duas únicas apresentações nos dias 04 e 05 de outubro às 19h, no palco principal do Vila Velha. Os ingressos já estão disponíveis no Sympla.

“Sr.Oculto” é uma tradução cênica da novela “O Estranho Caso de Dr. Jekyll e Sr. Hyde” (do autor britânico Robert Louis Stevenson), popularmente conhecida como “O Médico e o Monstro”. Nesta versão brasileira e contemporânea será relida a história do médico que se isola da sociedade cada vez mais, na medida em que sua criação monstruosa ganha mais visibilidade. O espetáculo traz à tona temas como a dualidade da natureza humana, o conflito entre o bem e o mal, as complexidades da identidade, da ética e da moralidade, questões que já habitavam a sociedade no século XIX (1886) quando a obra foi escrita, mas que permanecem relevantes.

Esta é a última oportunidade de visitar o Teatro Vila Velha este ano. “Sr. Oculto” encerra as atividades do espaço que entrará em reforma, com previsão de reabertura somente no segundo semestre de 2025.

“Este é um espetáculo político, e, portanto, não poderia ser apresentado em outro lugar se não o Vila Velha, que ao longo de seus 60 anos sempre colocou em cena as questões sociais do Brasil e do mundo. Para além de ter um lugar afetivo na minha história, o Vila também ocupa um lugar de formação e visão de mundo. Não fosse pelo Vila, eu não seria este ator, eu não seria este Rodrigo, e esse espetáculo sequer existiria”, revela Lelis.

Indicado em 2019 ao Prêmio Braskem de Teatro como revelação, Rodrigo interpreta a dupla personalidade do personagem principal: Dr. Jekyll e Sr. Hyde, um desafio para o ator que se reencontra com o teatro após dois anos atuando diante das câmeras em grandes produções, dentre elas sua aclamada performance como Caetano Veloso na cinebiografia “Meu Nome É Gal”, gravado em 2022, e no ano seguinte como Padre Bida, um dos personagens do núcleo central de “Guerreiros do Sol”, série da Globoplay e TV Globo com estreia anunciada para 2025.

“Nada melhor que voltar para onde e como tudo começou para celebrar essa década. As experiências na TV e no cinema me deram ainda mais ferramentas para o processo criativo teatral. No entanto, para além do formato e do lugar, me conecto com essa história tematicamente, porque ela discute temas que também me provocaram nos últimos anos, como é o caso da masculinidade e do lugar que ela ocupa na sociedade”, complementa o protagonista.

Responsável pela adaptação do texto, a premiada mestra em artes cênicas Mônica Santana (Prêmio Braskem de Revelação – 2015), explica que a questão de gênero é uma das principais perspectivas que buscou evidenciar no que chama de “transcriação” do texto, onde há liberdade para transpor a linguagem de uma obra, neste caso, a transformação de um romance em um texto dramático para o teatro.

“Os acontecimentos e a ordem em que acontecem foram mantidos, focamos em ampliar as discussões sobre o lugar da razão, do conhecimento científico e das questões de classe que se apresentam na história através do médico, mas também sobre a essa masculinidade, ancorada na razão e na ciência, que produz monstros, que gera violência, roubos e matança”, detalha Mônica, ao contar também que o convite do encenador Marcio Meirelles para realizar essa adaptação foi pensado justamente para obter um olhar feminino sobre o tema da masculinidade.

A relação entre homem e monstruosidade é um assunto que Marcio Meirelles já pesquisa ao longo das últimas décadas. Marcio revela que “Sr.Oculto” é na verdade a finalização de uma trilogia de espetáculos que começou em 2012 com “Drácula”, e teve seguimento em 2014 com “Frankenstein”.

“Em Drácula, acompanhamos um monstro que é construído pelo outro, através de boatos, notícias. Já em Frankenstein o monstro é produzido no outro, ou com o outro, é uma junção de vários corpos excluídos e o que acontece quando o excluído se revolta. Agora, em Sr.Oculto, tratamos do monstro que surge de dentro, da monstruosidade que há em cada um de nós. É sobre colocar para fora o seu lado oculto e não saber lidar com o mesmo”, explica o encenador.

Marcio destaca também que esta peça é uma expressão de admiração pelas possibilidades que um jovem ator tem de representar e fazer uma narrativa com seu próprio corpo, com sua voz e todos os recursos sonoros, audiovisuais e cenográficos. É, portanto, sobre o que há em comum entre Rodrigo Lelis e o Teatro Vila Velha: a paixão por contar histórias através da arte.

O espetáculo “Sr. Oculto” é uma realização do Estúdio Arroyo, com produção da Ayó Criação e conta com o patrocínio da Bahiagás, Governo do Estado da Bahia e GWM Morena Veículos.

SERVIÇO

O QUE: Sr. Oculto

QUANDO: 04 e 05 de Outubro (Sexta e Sábado), às 19h

ONDE: Teatro Vila Velha (Av. Sete de Setembro, Passeio Público – Campo Grande)

INGRESSOS: R$40 (Inteira) e R$20 (Meia)

Disponíveis na plataforma Sympla: https://bileto.sympla.com.br/event/98178

Sobre Uran Rodrigues 10119 Artigos
Uran Rodrigues é um influente agitador cultural, promoter e idealizador do famoso baile O Pente (@opente_festa), além do projeto Sinta a Luz (@sinta.a.luz). Com uma carreira dedicada à promoção da diversidade cultural e artística, Uran conecta pessoas por meio de eventos que celebram a arte, a moda e a cultura preta. Seu trabalho busca não apenas entreter, mas também valorizar e dar visibilidade às potências culturais de Salvador e de outros estados do Brasil.