“Nenhum shortinho a menos” ou sobre nossas emergências

“Nenhum shortinho a menos” ou sobre nossas emergências

“Nenhum shortinho a menos”. Essa frase estampou alguns dos cartazes e postagens sobre o caso do estudante de Psicologia, que foi impedido de entrar em um supermercado de Salvador porque estava utilizando um short curto. O caso repercutiu em mídias locais e nacionais.

Um conjunto de pessoas ocupou nesta útima quinta-feira a porta do estabelecimento. Eramos bichas, sapas, bissexuais, pessoas trans, dragqueens. Mas também, militantes do movimento negro. Itapuanzeiros indignados com o ocorrido em seu bairro. Pessoas e trabalhadores(as) do próprio estabelecimento. A diversidade emergiu, ocupou, fechou, lacrou, encantou e ganhou mais lutadoras e lutadores para as nossas causas coletivas.

Sebastian, dançarino

Há quem diga que nem só de close se faz luta. Algumas mais caretas e covardes chegam a dizer que “close e lacração não são luta(sic)”. Pois bem, amades, neste caso, o close e a lacração foram as formas de lutar. Foram elas quem melhor serviram para, pedagogicamente, dizer que nós seguiremos ocupando todo e qualquer espaço – mesmo que você me negue.

Deixamos a nossa mensagem: nenhum shortinho será condenado. Ao menos, não mais sem uma resposta nossa. Nenhuma cisheteronormatividade (termo que precisamos nos familiarizar), será exercida sem medo de que “aquele bando de viado venha aqui fechar na cara da gente e de toda sociedade”. Nenhuma desigualdade – mesmo que propagandeada pelo Governo Federal como bandeira de seu projeto político – será tolerada por nós em silêncio. Nós vamos e sabemos como responder à altura.

Genilson Coutinho do site Dois Terços, Petra Peron da Banca de Todas as Lutas, Uran e Marcos de Oliveira

A ocupação do shortinho foi um momento revigorante. A luta não só nos forma, nos forja. Ela nos alimenta. Nos dá combustível para seguirmos acreditando que as nossas apostas e investidas no outro mundo possível seguem em alta. E que os passos, que vieram de longe, carregaram a nossa memória ancestral e fundamento sobre resistência.

Nós sabemos sobre as nossas emergências. Sejam as que surgem com maior fôlego nesse momento ou as que têm se apresentam como a agenda que deve compor as nossas urgências no próximo período. São elas que nos ajudaram a compor a articulação de nossas diferenças. Ou, como tem nos dito Erica Malunguinho: o novo marco civilizatório. Aquele novo ponto de onde partiremos enquanto sociedade, nação, pessoas.

Nós honramos a nossa ancestralidade. Elas, que enfrentaram o mais profundo grau de desumanidade que pudemos chegar – a escravização de pessoas negras – nos deram régua e compasso. E isso fez com que muitas pessoas pudessem experimentar a democracia, na prática, ontem a tarde.

Nenhum shortinho será condenado. Nem um shortinho a menos. Nenhum passo atrás na emergência do nosso outro mundo possível. Nenhum pano passado para racismos, machismos, LGBTIfobias ou qualquer outra forma de violar ou oprimir a vida de outras pessoas. Não vamos recuar na luta pelo bem viver… Até que todas sejamos livres!

Por Vinicius Alves