
Com mistura de reggaeton, forró e sons eletrônicos, trilogia combina performance, som e imagem em rito de passagem
O videoclipe de “COISA MÁ”, faixa-título do álbum recém-lançado por Marcela Lucatelli, encerra a trilogia audiovisual iniciada com “JANEIRO JUNTO É BOM” e “ANTICIVILIZADOR”. Dirigido e roteirizado pela própria artista, o filme propõe uma jornada espiritual e sensorial marcada por dissolução, travessia e renascimento. “É um universo onde ruína e criação coexistem”.
A obra insere-se numa estética afrofuturista que compreende a ancestralidade como tecnologia de sobrevivência. A personagem principal transita entre passado e futuro, sagrado e profano, carne e cosmos. O clipe convida o espectador a acessar um estado de suspensão, no qual a escuta se torna corpo — e o corpo, um portal para o desconhecido.
A trilha combina o swing do forró com elementos do reggaeton e camadas de texturas eletrônicas, criando uma atmosfera de transe e rito. As vozes são tratadas com espacialidade e timbres variados, intensificando a experiência sensorial. A música funciona como uma provocação sonora sobre desejo, poder e os limites da identidade.
A trilogia visual explora diferentes formas de possessão — começando pelo amor, atravessando a raiva e culminando na transcendência. Nesta etapa final, a personagem abandona as estruturas civilizatórias e entrega-se ao imprevisível, onde o veneno simbólico se transforma em oferenda psicodélica.
Concebida como um rito de passagem, a trilogia entrelaça performance, linguagem e corpo em uma narrativa descontínua e pulsante.
“Faço música para tensionar o que é esperado, para invocar o que foi esquecido ou silenciado”, diz Lucatelli. “Meus trabalhos são rituais performativos, onde enceno e vivo os conflitos do mundo que me atravessa — com voz, corpo e complexidade”.
Recomendado para quem se interessa por interseções entre pop e experimental, o trabalho dialoga com artistas como FKA twigs, Juçara Marçal, SOPHIE, Moor Mother e Rosalía.