ESPETÁCULO GOTA D’ÁGUA REFLETE PROBLEMAS SOCIAIS DOS SUBÚRBIOS

ESPETÁCULO GOTA D’ÁGUA REFLETE PROBLEMAS SOCIAIS DOS SUBÚRBIOS

Com dois atores em cena, o texto de Chico Buarque e Paulo Pontes, ambientado nas favelas do Rio de Janeiro, é transportado através de elementos simbólicos para o Porto das Sardinhas, no Subúrbio Ferroviário de Salvador

O contexto social e político dos subúrbios periféricos são a essência do espetáculo Gota D’Água, que estreia gratuitamente dia 25 de agosto, no Youtube e fica em cartaz até dia 28/08, sempre às 19h.

Com direção de Vinícius Lírio, o espetáculo foi gravado no palco principal do Teatro Castro Alves e conta com apenas dois atores em cena, a vencedora do Prêmio Braskem 2015, Evana Jeyssan, que interpreta Joana e Augusto Nascimento, que dá vida ao personagem Jasão, além de assinar a co direção do espetáculo.

Gota D’Água é o título do texto teatral escrito em 1975 por Chico Buarque e Paulo Pontes, baseado no clássico grego Medea, de Eurípides. Chico e Paulo atualizaram o drama, transportando-o dos arredores da cidade grega de Corinto em 431 a.C. para as favelas do Rio de Janeiro da década de 1970.

O projeto Gota D’Água precisou ser adiado e reformulado algumas vezes devido a pandemia da COVID-19. Ao longo do processo, que já dura 9 meses, o projeto já contou com ensaios abertos, leituras dramáticas virtuais (com o elenco inicial completo) e mini documentários sobre os bastidores do espetáculo, que podem ser assistidos no instagram (@gota.d.agua_).

Para esta montagem final, o que seria um espetáculo com 14 atores e atrizes, precisou ser reduzido para apenas um ator e uma atriz, propondo assim diversos desafios para a equipe e principalmente para a encenação, que concebeu uma nova forma de contar a história.

“Com o agravamento da pandemia, foi necessário que interrompêssemos aquela criação e repensássemos tudo. A escolha pelo trabalho com apenas uma atriz e um ator, vale ressaltar, foi, antes de tudo, uma decisão baseada no grave contexto sanitário pelo qual ainda estamos passando e pela demanda de cuidarmos uns dos outros, de desenvolvermos o projeto da forma mais segura e responsável possível. Então, não foi uma escolha estética”, revela o diretor Vinícius Lírio.

Nesta montagem, a história de Chico e Paulo está sendo novamente atualizada e será contada a partir do ponto de vista dos dois personagens principais, Joana e Jasão, ambientados em um cenário degradado que presentifica, através das cores, formas e texturas, o Subúrbio Ferroviário de Salvador, especialmente o Porto das Sardinhas, incorporando assim as questões sociais, a cultura e as formas de resistência da população.

“Com as transformações do processo criativo e todas as adaptações necessárias, nos distanciamos muito de qualquer desenho mais realista, de modo que essas referências foram presentificadas em rastros: objetos, texturas, cores, movimentos. Em discurso, as problemáticas sociais, econômicas, políticas e culturais, de alguma maneira, encontram eco na realidade dos moradores de qualquer subúrbio brasileiro. Isso não é privilégio de Salvador. Assim como não é algo dessa montagem, exclusivamente. Nesse sentido, não havia antes e, menos ainda, há nesta versão qualquer tentativa de representação do subúrbio. Mas, com muita ética, responsabilidade, cuidado, sensibilidade e afeto, trouxemos os rastros do encontro com aquele lugar, com as pessoas, os tempos, as imagens, os cheiros”, ressalta Vinicius.

Fotos Larissa Lacerda