Coletivo Duo estreia espetáculo MacbethRicardoIII: um tratado de vilania no teatro Martim...

Coletivo Duo estreia espetáculo MacbethRicardoIII: um tratado de vilania no teatro Martim Gonçalves

Curta temporada vai de 05 a 08 de outubro e traz em cena Antonio Fabio e Saulus Castro sob a direção de Rino Carvalho

Um rei diz: “Sua Alteza! Minhas saudações”. O outro rei: “Meus cumprimentos, Majestade!”. Segue-se o diálogo. “Encontro inusitado o nosso”. “Diria mesmo impensável”. “Chegamos ao mesmo tempo?”. “Praticamente. Ao mesmo tempo”. Macbeth e Ricardo III dizem: “É exatamente o que me amedronta: nossas terríveis coincidências”. Este é um breve diálogo da nova montagem do Coletivo DUO, o espetáculo MacbethRicardoIII – Um Tratado de Vilania, que estreia em curta temporada de 05 a 08 de outubro, no Teatro Martim Gonçalves – de quinta a domingo, duas sessões diárias às 16h e 19h.

Em cena, os atores Saulus Castro e Antonio Fábio promovem o encontro fictício de Macbeth e Ricardo III, personagens shakespearianas obscuras e com sede de poder. O projeto, que promoveu uma semana de seminários que buscou interseccionar a obra de Shakespeare com o tempo-espaço espelho do contemporâneo, foi aprovado no Prêmio Funarte de Estímulo ao Teatro 2022, do Fundo Nacional de Artes (Funarte), através do Ministério da Cultura.

Encenação
O projeto MacbethRicardoIII nasceu em 2019, em que atuantes expõem desejos artísticos e o comungar reverbera na obra a estrear. Nesse período, o Brasil e alguns tantos países do mundo vivenciam projetos políticos que “são coisas do passado”, vivenciados em um tempo contemporâneo que já não condiz com o que eles propõem – hierarquização dos sujeitos e a manutenção das estruturas opressoras de poder.

O novo espetáculo do DUO coloca duas das personagens mais sanguinárias e vis da obra de Shakespeare num encontro fictício, proposto pela dramaturgia inédita de Paulo Atto, em que elas apresentam suas estratégias para a conquista e manutenção de seus poderes. “Shakespeare é uma mola propulsora para abordarmos nossa realidade e como precisamos ficar atentos no sentido de que violências históricas não sejam o normal”, enfatiza Castro.

Duas dramaturgias como ponto de partida. Macbeth assassina seu rei em sua própria casa, depois seus amigos e tudo que ameaça sua ambição. Ricardo III trama impronunciáveis intrigas para ascender ao trono. Quando estes dois poderes se encontram, o que norteia suas ações? Macbeth e Ricardo III são dois improváveis reis que tudo destroem, violentam, corrompem para atingir seus objetivos: o poder. Os ideais são, aparentemente, diferentes, os meios coincidem.

Em MacbethRicardoIII, personagens se borram e seus discursos tomam conta dos corredores do labirinto que percorrem. ” Ao convidarmos Paulo Atto para criar uma dramaturgia que junta essas duas personagens, queremos evidenciar os percursos políticos de alguns governantes, que são de pura vilania para atingir suas ambições. Parece-me, este é o tempo em que vivemos. Não importam os meios na concretização de seus objetivos. Eles seguem. Se há ossos pelo caminho, eles acreditam que estes estão sorrindo”, reforça Castro.

O cenário atemporal de MacbethRicardoIII é um percurso em labirinto cheio de caveiras, em que estas duas figuras que parecem diferir, revelam-se mais nas suas coincidências. O labirinto que deveria desorienta-los, leva ao reconhecimento. Dois tiranos cujo ideal de vida é a pulsão da morte. De Quem?

A encenação proposta por Rino Carvalho coloca as personagens na infinitude branca de um labirinto, que “nos reporta a um lugar ermo e atemporal, intensifica a assepsia clínica, patológica da dimensão no aspecto frio e sórdido de um sistema e das personagens”. Se há vilania, há mortes. “O vermelho que macula essa inverdade asséptica. O rastro e a herança do resultado inexorável da Violência e Vilania que denuncia e deflagra as conquistas sangrentas para a obtenção do Poder”.

Para acentuar a proposta dramatúrgica, o diretor utiliza ainda camadas narrativas projetadas em imagens. “É uma interferência, um borrão aleatório e estético na transversalidade do recorte das cenas. As imagens projetadas buscam sugerir ações que ecoam no tempo-espaço e que vão reverberando nas personagens”.

O projeto
Os labirintos da vida são permeados por atalhos que nos levam a encontros – alguns inesperados, outros desejosos. Das andanças pelos corredores dos labirintos teatrais soteropolitanos, os atores Saulus Castro e Antonio Fábio se encontram e desde então já são 13 anos de amizade e troca artística. “Nos conhecemos no mesmo ano em que foi criado o DUO, estas sincronias me interessam”, conta Castro, que fundou o coletivo em 2010.

Somaram-se em cena. Ambos atuantes, em “A história de amor de Romeu e Julieta”. Um ator e outro diretor – Antonio Fabio dirigiu Saulus Castro em “A Califa da rua do sabão” e fez assistência no solo “Memórias de Fogo”. Já Saulus dirigiu Antonio Fábio em “Arraial”, espetáculo do Coletivo DUO. E pelos mergulhos em labirintos dramatúrgicos, adentram nas águas de Shakespeare, de onde nasce o projeto MacbethRicardoIII – Um Tratado de Vilania, em 2019.

Serviço
O quê – Coletivo DUO Teatro apresenta “MacbethRicardoIII”, com direção de Rino Carvalho e dramaturgia de Paulo Atto
Quando – 05 a 08 de outubro, de quinta a domingo, duas sessões diárias 16h e 19h.
Onde – Teatro Martim Gonçalves (Canela)
Ingressos – R$40 (inteira) e R$20 (meia)

ONDE COMPRAR: SYMPLA