Capoeiragem Musical celebra a essência da Capoeira no Centro Histórico de Salvador

Capoeiragem Musical celebra a essência da Capoeira no Centro Histórico de Salvador

Da bossa nova de Baden Power e Vinícius de Moraes, até o axé music, sem deixar de lado a música popular brasileira, os cânticos dos orixás e também o samba reggae; a Capoeira está presente nos mais diversos ritmos e sonoridades. Com a ideia de celebrar toda essa representatividade e difundir a história da Capoeira por meio da música, o Pelourinho recebeu, na última sexta-feira (15), a primeira edição do Capoeiragem Musical Show & Convidados.

A festa, realizada no Casarão Dezessete, no Terreiro de Jesus, reuniu um público animado de várias nacionalidades para vivenciar um caldeirão de linguagens artísticas com grandes músicas influenciadas pela Capoeira, em um espetáculo composto pela mistura de instrumentos universais, como guitarra e sopro, com a bateria da Capoeira, composta por berimbau, atabaque e pandeiro.

Iniciativa do cantor, compositor e mestre capoeirista Reinaldinho, ex vocalista do Terra Samba, em parceria com o empreendedor sócio-cultural-esportivo mestre Balão e a produtora Flávia Veiga, o evento contou com a presença de convidados ilustres, como a Secretária de Cultura do Estado da Bahia Arany Santan a, os cantores e compositores Tatau e Tonho Matéria, junto ao contramestre Dainho Xequerê, que receberam uma estatueta feita pelo artista plástico Denissena, em homenagem à sua contribuição a Capoeira pela música.

“A Capoeira serve como base de tudo, porque ela dá pra gente a musicalidade, a disciplina, dá entendimento do que é bom e ruim, assim como de tempo e espaço. Nos ensina a estar bem pra proceder bem, a hierarquia, o acordar cedo. Antes de tudo, a gente é Capoeira e estou recebendo aqui no Capoeiragem Musical todos os mestres que fizeram parte da minha história: mestre Piauí, mestre Raimundo Kilombolas e Cabeludo”, destaca Reinaldinho, que está há 30 anos na Capoeira.

“Os elementos que cantamos no bloco afro, no afoxé, são os mesmos produzidos pela essência da Capoeira, que também vem dessa matriz africana, do samba de caboclo, dos repentes e cânticos dos terreiros de candomblé. Então, tudo isso se manifesta não só na Capoeira, mas também no samba, na puxada de rede, maculelê, e no bloco afro, que adere essa essência e busca criar o protesto através disso. A função do bloco afro, assim como a Capoeira, também é criar um protesto, contra as mazelas sociais, a matança da natureza e toda forma de negação aos mestres dos saberes”, conta o cantor, compositor e mestre de Capoeira, que foi um dos precursores, na década de 1980, ao colocar a Capoeira no palco, como performance artística.

Uma festa dentro da festa
O Capoeiragem Musical integrou a programação do 9° Festival Internacional de Capoeiragem, evento que aconteceu de 13 a 16 de julho com a ideia de difundir a valorização da Capoeira sob várias perspectivas: artística, esportiva, educacional, turística e cultural, como patrimônio imaterial da humanidade.

Idealizador do Festival e anfitrião do Capoeiragem Musical, o empreendedor sócio-cultural-esportivo mestre Balão conta que a temática do espetáculo já é abordada há décadas por pesquisadores e artistas. “Waldeloir Rego, no livro Capoeira Angola – Ensaio Socioetnográfico, de 1968, já falava da influência da Capoeira em outros ritmos musicais. Então, não estamos inventando. A convite de Reinaldo, executamos a festa com esse tipo de proposta, colocando as músicas que a Capoeira influenciou, seja na letra ou na melodia, e mostrando para a sociedade a presença e o valor da Capoeira”, conta o presidente do Instituto CTE Capoeiragem – Centro de Treinamento e Estudos da Capoeiragem.

Foi também em parceria que Reinaldinho e Balão compuseram a música Barquinho Pó Pó Pó, o braço infantil do Capoeiragem Musical. A canção inédita foi lançada na abertura do Festival e contou com a participação da jovem cantora Maria Clara e os alunos do projeto Capoeiragem Mirim. A noite de abertura também foi marcada por uma grande roda com mestres e homenagens ao mestre Nô, capoeirista da velha guarda, e Dona Nicinha do samba (in memoriam).

A programação do festival, concentrada no Forte da Capoeira, localizado no Santo Antônio Além do Carmo, ofereceu ao público oficinas, palestras, Espaço Criança, além de formaturas, batizados e trocas de graduações. Na ocasião, o contramestre Kibão (Luiz Marcelino de Jesus e Silva), com 33 anos de Capoeira, , recebeu a graduação de mestre.

Torneio Ubuntu
Realizado no Espaço Criança, o Torneio Ubuntu reuniu crianças e adolescentes para mostrarem suas habilidades durante as aulas de Capoeira, em sua segunda edição dentro do festival, por meio do edital de chamamento público 02/2021, da Superintendência dos Desportos do Estado da Bahia – SUDESB. Marcaram presença os jovens participantes do Capoeiragem Mirim de diversas regiões de Salvador, como a comunidade do Bate Facho, no Imbuí; IBCM, que fica em Nazaré; e Paraíso Azul, no Costa Azul, além do núcleo de Camaçari, que conta com o patrocínio da Braskem e Governo do Estado da Bahia, por meio do Fazcultura.

Tour Capoeirístico
Outro destaque do evento foi o Tour Capoeirístico pelo Centro Histórico de Salvador, com o monitor Papel, que apresentou aos visitantes 22 pontos que foram cenário de fatos relevantes da história da Capoeira nos séculos XIX, XX e XXI. O encontro contou com visita a primeira academia de Capoeira do Mestre Bimba, a Associação de Capoeira Angola – ABCA, a escadaria da Igreja do Passo, local que foi cenário do filme premiado “O Pagador de Promessas” e outros locais representativos da Capoeira na cidade. O Tour Capoeirístico também pode ser acompanhado de forma virtual através do projeto iniciado em 2007 por mestre Balão e parceiros no site www.mapadacapoeira.com.br.

O evento contou com o Patrocínio da Bahiatursa. Para mais informações, é só acessar o site ou Instagram @festivalcapoeiragem.

Crédito fotos: Alexsandro Couto