
Pesquisas mostram que três milhões de brasileiros são usuários de cigarros eletrônicos atualmente. O hábito cresceu 600%, segundo a Anvisa
O uso de cigarros eletrônicos, também conhecidos como vapes, vem crescendo aceleradamente no Brasil — e junto com ele, os alertas sobre seus impactos à saúde, especialmente à fertilidade. Embora muitos usuários considerem o dispositivo uma alternativa menos prejudicial ao cigarro convencional, estudos recentes vêm comprovando que os riscos à saúde reprodutiva existem e são relevantes. “O que prejudica é a substância — especialmente a nicotina. Ela é altamente nociva à saúde reprodutiva, tanto em homens quanto em mulheres”, explica a médica Andreia Garcia, do IVI Salvador. “Já se sabe que o cigarro eletrônico não é menos agressivo que o cigarro convencional. Ambos contêm compostos tóxicos capazes de impactar negativamente a fertilidade”.
Segundo dados da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), o uso desses dispositivos aumentou 600% nos últimos seis anos. O Instituto Ipec estima que cerca de três milhões de brasileiros utilizem vapes atualmente. O crescimento tem acendido um sinal de alerta em todo o mundo. Um estudo da Universidade Cumhuriyet, na Turquia, mostrou que o uso de cigarros eletrônicos pode reduzir a contagem de espermatozoides e provocar alterações morfológicas nos testículos, interferindo diretamente na fertilidade masculina. O líquido dos dispositivos, segundo os pesquisadores, eleva o estresse oxidativo no corpo humano, o que compromete o funcionamento celular. No caso dos homens, a nicotina compromete a produção, a qualidade e a motilidade dos espermatozoides, podendo inclusive alterar seu DNA — o que eleva o risco de mutações genéticas e malformações nos descendentes.
Nas mulheres, os efeitos também são preocupantes. Estudos mostram níveis mais baixos do Hormônio Anti-Mulleriano (AMH), marcador da reserva ovariana, entre usuárias de vapes em todas as faixas etárias. “O AMH é um dos principais indicadores da capacidade reprodutiva feminina. A nicotina presente nos vapes pode reduzir o fluxo sanguíneo para o útero e afetar o desenvolvimento dos folículos ovarianos, dificultando a concepção e aumentando o risco de complicações na gravidez”, afirma a especialista. Além da redução da reserva ovariana, o uso contínuo de cigarros eletrônicos pode interferir no equilíbrio hormonal, provocar alterações no ciclo menstrual e comprometer a qualidade dos óvulos. Durante a gestação, o consumo também está associado a parto prematuro, restrição do crescimento fetal e baixo peso ao nascer. Há ainda indícios de que a exposição prolongada à nicotina possa antecipar a menopausa.
Os cigarros eletrônicos contêm uma combinação de substâncias tóxicas, como metais pesados (chumbo, cádmio e níquel), benzeno, formaldeído e compostos aromatizantes que, além de afetarem a saúde geral, interferem diretamente na função reprodutiva. Os flavorizantes, por exemplo, podem se acumular no organismo e gerar reações inflamatórias e hormonais indesejadas. Apesar da aparência moderna e dos sabores variados, os vapes podem conter níveis de nicotina muito mais altos do que os cigarros comuns. Enquanto o cigarro tradicional tem cerca de 1mg por unidade, alguns dispositivos eletrônicos chegam a conter até 57mg por ml de líquido, segundo dados do Ministério da Saúde.
Para aqueles que desejam ter filhos, abandonar o cigarro — seja convencional ou eletrônico — é uma medida essencial. A orientação é buscar apoio em programas de cessação do tabagismo e acompanhamento psicológico. “Parar de fumar é um passo importante para preservar a fertilidade e aumentar as chances de uma gestação saudável”, reforça a Dra. Andreia Garcia, do IVI Salvador.
Sobre o IVI – RMANJ
IVI nasceu em 1990 como a primeira instituição médica na Espanha especializada inteiramente em reprodução humana. Atualmente são em torno de 190 clínicas em 15 países e 7 centros de pesquisa em todo o mundo, sendo líder em Medicina Reprodutiva e o maior grupo de reprodução humana do mundo.