Baco Exú do Blues apresenta #BLUESMAN

Baco Exú do Blues apresenta #BLUESMAN

Bluesman poderia servir de comprovação que Baco Exu do Blues chegou mesmo para ficar na cena musical brasileira. Poderia apenas mostrar que Baco é um artista especial e que seu segundo álbum é tão bom (ou até melhor que ) e tão impactante ( ou até mais que ) quanto seu elogiado primeiro disco “Esú”, presente em praticamente todas as listas de melhores lançamentos do ano passado.

Mas, Bluesman vai além disso e é mais sentir do que descrever. Esse disco é África, é New Orleans, é Caribe e Bahia. É revolta e amor, é dor, deprê e muita autoestima. Blueseman é  peso, é força é tesão. É Baco Exu do Blues lembrando que o negro é foda.

Baco por Alex Takaki

O disco tem nove faixas, chegando ao mercado através da Altafonte, em todas as plataformas digitais com direito a um filme de quase oito minutos – que o artista chama de interpretação audiovisual do álbum – dirigido por Douglas Bernart, estrelado por Kelson Succi e Hilton Cobra e realizado em parceria entre o Coala Festival, a agência AKQA, a Stink Films e o selo 999. Com direção de arte, interpretações e fotografia impecáveis, a produção faz jus ao discurso, às letras inteligentes e sonoridade autêntica de Bluesman.

A guitarra de Muddy Walter abre o álbum produzido pelo próprio Baco com beats de DKVPZ, JLZ e Portugal. Ela é seguida de um manifesto social em que ele avisa antes de cantar suas canções nocauteadoras: “ A partir de agora, considero tudo Blues. O samba é blues, o rock é blues, o jazz é blues, o funk é blues, o soul é blues. Eu sou Exu do Blues. Tudo que quando era preto, era do demônio e depois virou branco e foi aceito eu vou chamar de blues. É isso: Jesus é blues”, define.

Fotos Helen Salomão para ilustrar as faixas de Bluesman

A segunda faixa, “Queima minha pele” proporciona o encontro de Baco com – o piano e voz de – Tim Bernardes, dois dos nomes mais aclamados da nova cena. Juntos, eles cantam sofridos “Queima minha pele”. “Amor, você é como o sol. Ilumina meu dia, mas queima a minha pele”, diz.

Tim, também participa tocando um solo de guitarra alucinante em “Flamingos”, que tem o grupo Tuyo nos vocais com Baco. A faixa tem o cantor indo do Louvre à quebrada gritando versos do Exaltasamba. Um luxo! “As love songs são histórias reais que me doem cantar. Sinto no peito falando cada palavra dessas e acho que isso deve tocar as pessoas. Daí se nasce um hit”, acredita.

Por falar em hit, “Me desculpe Jay Z”, a faixa foco do disco, tem cheiro de grande sucesso. Com participação da cantora 1LUM3, a música traz a confusão de sentimentos do eu-lírico. “A vida é bipolar e o amor é o reflexo maior da vida.  A convivência é muito doida. Uma hora você ama, outra odeia. Uma hora quer estar perto, outra bem longe. O amor é quem rege a vida e a morte”, afirma.

Talvez as músicas mais impactantes do disco sejam “Minotauro de Borges” e “Kanye West da Bahia”. A primeira, inspirada num conto argentino fala da força que Baco tem. “O Minotauro de Borges mata sem querer. Ele é tão forte que não tem esse controle  e quando  li isso, me senti na pele dele”, comenta o cantor, que na sequência do disco se auto intitula o Kanye West da Bahia em faixa com participação de Bibi Caetano. “Eu quero ser o Kanye West da Bahia porque ele é um dos maiores músicos na face da terra. O cara é um gênio, uma mente criativa muito forte que devasta e cria novas coisas que as pessoas não esperam. Eu tenho muita vontade de ser essa mente criativa, mas sem passar pelas confusões que ele passou e erros que cometeu nos aspectos políticos e sociais”.

Bluesman ainda tem Baco cantando o quão livre quer ser em “Girassóis de Van Gogh”, virando imortal ao aceitar que sua pele é prata em “Preto e prata” e termina com “BB King”, uma leitura de si próprio em que Baco define um bluesman: “É ser o inverso do que os “outros” pensam. É ser contra corrente, ser a própria força, a sua própria raiz… Não sou legível. Não sou entendível. Sou meu próprio deus. Sou meu próprio santo. Meu próprio poeta”.

 Sobre Baco

Diogo Moncorvo, mais conhecido como Baco Exu do Blues nasceu há 22 anos em Salvador  e surgiu no cenário nacional em 2016 com a faixa “Sulícidio”, em parceria com Diomedes Chinaski. Ano passado, lançou seu primeiro disco “Esú”, presente em praticamente todas as listas de melhores discos do ano passado. O álbum levou o artista aos principais festivais do país e lhe rendeu muitas indicações e prêmios incluindo o de artista revelação e melhor música (Te amo, disgraça) do Prêmio Multishow este ano.  Aliás, “Te amo, disgraça” acaba de entrar na trilha da minissérie da Rede Globo, “ Ilha de Ferro” e é tema das personagens de Cauã Reymond e Maria Casadevall.

“Eu não me considero um vencedor, eu sou um vencedor. Sou jovem com grandes sucessos, contrariei as estatísticas e acho que nem eu mesmo acreditei que ia chegar aqui. Ainda quero ir muito mais longe, mas se eu morresse amanha, sinto que fiz meu papel . Cheguei num lugar onde não acreditava que ia chegar e superar a própria expectativa me deixa muito feliz. Bluesman é o reflexo disso”, finaliza.

Texto Jorge Veloso